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Tuesday, March 08, 2011

Aquarela do século XVIII mostrando um cliente de atelier de máscaras, usando a tradicional máscara veneziana Bauta
MÁSCARAS e CARNAVAL
!Folia e Teatro!
O Carnaval, em sua origem histórica, era um conjunto de festas de natureza religiosa e pagã, que antecedia a Páscoa. Durante os preparativos para a Páscoa, o consumo de carne era evitado, sob severas penas. Com esta prática, popularizou-se a expressão carne levare, que deu origem ao nome Carnaval, um festival de inverno na Europa.

No Carnaval, todas as brincadeiras e jogos são permitidos (
A Carnevale ogni scherzo vale), danças populares, música, bailes mascarados e desfiles, acontecendo entre a epifania de 6 de janeiro e o período da quaresma, quando se renuncia aos prazeres tradicionais, ao vinho e às blasfêmias.

O Carnaval vinha como preparativo para este tempo de abstinên
cia, e na Itália seu registro mais antigo de máscaras carnavalescas é de um documento de Veneza, datado de 02 de maio de 1268, no qual as máscaras foram usadas por pessoas proibidas de jogarem um certo jogo. Com o tempo, a folia passou a ser marca destas comemorações populares, nas quais celebra-se a igualdade e a alegria.

Veneza é uma das mais tradicionais cidades do Carnaval. Localizada estrategicamente em um mar raso, o conjunto de ilhas sobre as quais Veneza foi construída abrigou os italianos do domínio e ameaças bárbaros, pelo continente e pelo mar. A cidade conserva estilos arquitetônicos de diversas eras, e é costurada por canais, pelos quais recebe comida e água. Sob Veneza, imensos troncos de árvore sustentam suas pedras. A madeira petrificou-se com a água do mar. Porém esses troncos não se nivelaram sob o peso da cidade, que apresenta piso ondulado e irregular. Ameaçada pelo avanço do mar, bem como pela corrosão de seus edifícios em função da sujeira dos pássaros e poluição, Veneza
tenta, com seus habitantes, cerca de 300 famílias, salvar seus tesouros. Já existe um projeto de contenção do mar para que as águas não engulam a cidade, uma das mais ricas e caras do mundo.

A Troupe Per Tutti esteve em Veneza em setembro de 2011, e reuniu uma importante coleção de máscaras de couro, artesanais, feitas por artistas tradicionais venezianos, representando os personagens da Commedia dell'Arte, linguagem teatral surgida na Idade Média e que influenciou o mundo ocidental por pelo menos 400 anos. A Commedia dell'Arte representava a sátira popular das relações trabalhistas da sociedade medieval, colocando poder nas mãos dos servos e rebelando-os contra a exploração de seus patrões. A s
eguir, algumas das principais máscaras da Commedia:
Zanni é o nome comum à categoria das máscaras de servos. No início da Commedia dell'Arte, os Zanni representavam a maioria dos empregados das coorporações de ofício, aprendizes do mestre, servos do patrão, sempre explorados em trabalho quase escravo. No teatro, decidiam rebelar-se e inverter a hierarquia do poder. A máscara do Zanni é caracterizada pelo comprido e fino nariz. O personagem é, em regra, trabalhador braçal, forte porém ingênuo, e não muito inteligente.

Arlecchino, personagem da categoria dos servos - Zanni -, jovem alegre e astuto porém sem malícia, é atrapalhado e vive eternamente faminto. A origem desta máscara é bérgama, região da Lombardia. Originalmente com traje branco, com remendos coloridos, seu figurino evoluiu para um rico desenho geométrico de cores vivas. Na cintura, levava um porrete para segurança pessoal, mas este servia mais aos seus patrões, para lhe castigarem. Tão popular, a personagem deu origem às Arlequinadas, apresentações nas quais a principal figura e protagonista era este servo. Grimaldi, um dos precursores do palhaço moderno, era famoso por suas Arlequinadas, nas quais desenvolveu um personagem próprio, inspirado em Arlequim. De região a região, o personagem ganhou estilos diferentes, conservando porém sua grande fome, miséria e comicidade.


Capitano (salvador das virgens bêbadas), personagem da categoria dos patrões, é um aventureiro de passagem, galanteador, conquistador barato e muitas vezes mentiroso sobre suas inacreditáveis façanhas e vitórias. Esta personagem é um militar mercenário e arrogante, diz-se valente mas, desafiado, mostra-se atrapalhado, inépto e covarde. A máscara é referente à Espanha, e desenvolveu vários estilos de capitão: Spavento di Vall'Inferna, Coccodrillo, Fanfarone, Fracasso, Terremoto, Spaccamonti, Sangre y Fuego, Matamoros, Spezzaferro, Rodomonte e Scaramouche, este último tornando-se um novo tipo de personagem, galanteador refinado e audacioso, mais artístico do que bélico.


Colombina, personagem da categoria das servas, foi uma das que se destacou no século XVII no repertório da Commedia. Disputada por seu patrão, Pantalone, e seu amante, Arlequim, Colombina seria o contrário da romântica Enamorada: livre, insolente, às vezes astuta, um pouco atrapalhada, faladora e fofoqueira. Como as demais personagens femininas da Commedia dell'Arte, Colombina não teria uma máscara cobrindo o rosto da atriz, pois a beleza das mulheres era também apelo comercial explorado pelos grupos teatrais da época. Outras servas são: Corallina, Mirandolina, Franceschina, e um dos disfarces de Colombina, Arlecchinetta.


Capitano Coccodrillo, como vários outros capitães, é um tipo de nariz extremamente longo. Esse nariz da máscara de Capitano era característico e fálico, e não representava repulsa. Pelo contrário, o personagem era sempre desejado pelas mulheres, até revelavar ser uma completa fraude. Seu figurino era exagerado e esfarrapado, atrapalhava-se com sua capa, seu imenso chapéu, e a bainha de sua espada. Sem dúvida, um dos tipos mais cômicos da Commedia dell'Arte.


Medico de la Peste, tornou-se uma máscara carnavalesca mais recentemente. Não servia como máscara teatral ao seu tempo, mas compunha a indumentária profissional dos médicos que tratavam de pacientes suspeitos ou infectados pela grande epidemia da peste negra, que atingiu Veneza em 1630. Acreditavam os médicos que, utilizando este acessório, com ervas aromáticas em seu bico, e vidros protegendo os olhos, estariam imunes à contaminação da doença. É, portanto um tipo social da época.

Pulcinella, personagem da categoria dos servos, era filosófico, melancólico, e sábio em sua simplicidade. Corcunda e barrigudo, Pulcinella também destacou-se no repertório da Commedia dell'Arte como uma das mais populares máscaras do elenco. A personagem, representada nas duas máscaras acima, é de origem napolitana, um grande sonhador, que resolve de modo simples problemas nos quais sem querer se envolveu. É característico o seu grande nariz adunco, e seu ar sereno. Todavia, é também um personagem dotado da sabedoria do povo, um crítico irônico defensor da justiça e contra a opressão.

Pantalone, personagem da categoria dos patrões, é uma máscara idosa, de longo e caído nariz, e muitas rugas. Muitas vezes com uma barba, a máscara representava um comerciante judeu, que instalando-se em Veneza, origem do personagem, prosperou nos negócios. A despeito do sucesso, o personagem é avarento, ganancioso, queixa-se constantemente de não ter dinheiro, e ignorando a idade procura seduzir as mulheres, preferencialmente jovens, nem que para conquistá-las precise enganar o filho e tomar-lhe a noiva. É também muito interessado em suas servas. Em algumas histórias, é pai de um dos jovens enamorados, pretendendo um casamento que resulte em riqueza.

Briguella, personagem da categoria dos servos, é entre eles o de maior autoridade. Colérico, briguento e insolente, é também de origem bérgama. O personagem apresenta grande arrogância, e provoca intrigas e confusões das quais possa tirar alguma vantagem para si próprio, utilizando para tanto de muitas mentiras e um grande poder de persuasão. Às vezes vilão, às vezes servo leal, o personagem também desdobra-se em vários tipos: Buffet, Flautino, Bagatino, Gandolino, Mezzettino, Fenocchio, Scapino e Beltrame da Milano são alguns de seus nomes.

Dottor Balanzone, personagem da categoria dos patrões, representava um intelectual acadêmico, intitulado e verborrágico, amante da boa comida e da boa bebida. Gosta de fazer grandes e pomposos discursos, com palavras complicadas e assuntos complexos sobre os quais nada entende, criando uma lógica sem fundamento e um falatório sem conteúdo. Não muito inteligente, assume a postura de professor, originário da tradicional universidade de Bologna. Normalmente, representa um rico bêbado, traz as bochechas descobertas da máscara tingidas de vermelho, pelo efeito do álcool, e aparentemente é esta permanente embriaguez que o faz misturar assuntos pelo prazer de discursar sobre cultura inútil de forma presunçosa. Um dos seus nomes mais conhecidos é Balanzone, nome derivado de balle (mentira), refere-se também a sua imensa barriga. Às vezes médico, às vezes advogado, juiz, notário, também recebeu o nome de Graziano Baloardo.

Bauta, uma máscara originária da tradição do Carnaval de Veneza, também não representa um personagem, mas sim um costume dos mascarados. Quando a pessoa tinha a intenção de manter em total segredo sua identidade, normalmente ela utilizava-se desta prática máscara, que permite ao mascarado comer e beber sem necessidade de remove-la do rosto. A Bauta normalmente vem acompanhada de penas e/ou capuz, que cobrem toda a cabeça do indivíduo. Porém, ela permitia a casais enamorados beijarem-se em segredo. É uma máscara tradicionalmente branca, confortável, e que modifica o som da voz de quem a usa, dificultando a identificação. O nome refere-se à sua aparência monstruosa.

Enamorados, personagens normalmente da categoria dos patrões, são jovens românticos e idealistas que vivem uma paixão prejudicada por diversos fatores. Tais personagens não utilizavam máscaras, normalmente eram os atores mais belos do elenco (na foto acima, uma máscara neutra, utilizada para exercícios técnicos do ator moderno). Ora em famílias diferentes, ora em classes sociais diferentes, o amor que parece impossível entre os enamorados triunfa ao final da história. Assim termina a maioria das histórias da Commedia dell'Arte, com a união - e casamento - dos dois amantes, vencidas a distância e dificuldades. Era uma forma de agradar a Igreja, que reprovava muito do que se apresentava nas ruas, por companhias teatrais de Commedia dell'Arte. A saber, as histórias eram repletas de libidinagem, pecados capitais, além de serem também expressão da revolta de um povo oprimido. Foi com a ascensão da burguesia, e profissionalização dos grupos teatrais dos aristocratas que a censura começou a controlar o teatro mambembe. Começa então o declínio da Commedia dell'Arte, para a elitização dos grupos teatrais oficiais, educados nos palácios para servir aos nobres.

Conceito importante: Canovaccio é na Commedia dell'Arte a sistematização da estrutura teatral do espetáculo. No Canovaccio estão dispostos os nomes de todos os personagens e as relações que cada um deles estabelece com os demais. Não havia dramaturgia, tampouco diretor. A Commedia dell'Arte era, sobretudo, uma apresentação de marcações e improvisação, sobre um pequeno tablado, em plena rua, onde o povo se encontrava e comercializava trabalho e produtos.

Fonte consultada: http://www.delpiano.com/carnival/html/commedia.html

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